Inovação não é sinônimo de tecnologia
No mundo inteiro o investimento no desenvolvimento ou implementação de novos recursos tecnológicos tem aumentado de forma exponencial. Em 2021, por exemplo, cerca de US$ 93,5 bilhões foram investidos em Inteligência Artificial em nível mundial, mais que o dobro do investimento em 2020, segundo o Artificial Intelligence Index Report 2022 da Universidade de Stanford. No Brasil, a consultoria IDC estima que as empresas devem investir US$ 504 milhões em IA neste ano, 28% a mais ante o ano anterior.
O objetivo desses gastos vultosos em tecnologia é bem óbvio, todos querem inovar para se destacar em um cenário cada vez mais competitivo. Ainda assim, a corrida da disrupção se assemelha a um campo minado cheio de desafios. Dados da consultoria de inovação Ace Cortex, divulgados este ano, revelam que apenas 23,2% das companhias brasileiras têm líderes que afirmam praticar a inovação. Se somente investimento em ferramentas tecnológicas não é o suficiente, qual é o ingrediente secreto para ter um modus operandi no qual a arte de inovar vire uma cultura permanente nas empresas?
O autor americano de best-sellers Steven Johnson responde à pergunta em sua obra atemporal De onde Vêm Boas Ideias. Entre os elementos listados está a criação de ambientes que favorecem a inovação. Ao olhar para o passado podemos encontrar um exemplo entre os séculos XVII e XVIII, nos quais o compartilhamento de ideias entre intelectuais de várias disciplinas resultou no surgimento do Iluminismo. Desmistificando também a imagem romantizada do gênio solitário que tem uma ideia brilhante em um momento de epifania.
Sob a perspectiva do agora e do futuro do trabalho é preciso fomentar ainda mais o debate em torno dos modelos de colaboração dos profissionais, nos quais os espaços, sejam virtuais, físicos ou híbridos, desempenham um papel fundamental. A diversidade também exerce um pilar de extrema necessidade para que esse ambiente de inovação funcione. Quando falo dessa pluralidade, me refiro a todo tipo de diferença que pode ser cognitiva, de gênero, racial, orientação sexual, socioeconômica e até multidisciplinar.
Para ter um espaço que de fato seja inclusivo, os líderes precisam ouvir mais o próprio time e adotar uma cultura organizacional de cuidado com os colaboradores. Mais do que isso, essa cultura precisa ser falada, vivida e repetida diariamente, do contrário não se perpetuará pela empresa e morrerá, cedendo lugar à falta de engajamento e produtividade da equipe. As próprias barreiras ou limitações de um líder vão se traduzir no impeditivo para a empresa criar um ambiente inclusivo de cuidado com as pessoas.
Transformar é a palavra-chave
A inovação não é sinônimo de tecnologia, mas sim de transformação de processos, hábitos e produtos em uma cultura nova na qual as soluções tecnológicas são usadas como ferramentas para apoiar a estratégia de negócios com metas e objetivos claros. Por ser um processo complexo, é importante que a liderança tenha uma visão a longo prazo para guiar não somente os colaboradores, como demais stakeholders também.
Durante alguns anos em que a Adobe passou pelo próprio processo de transformação digital, migrando seus softwares para a nuvem, o CEO da companhia, Shantanu Naryen, afirmou que 50% do seu tempo era explicar para o mercado a mudança, até que a estratégia estivesse consolidada. Agora, cerca de dez anos depois – lembra-se da visão a longo prazo? –, a companhia é uma das empresas de tecnologia com o maior valor de mercado na Nasdaq.
Transformar é o que permitirá uma organização construir uma cultura da inovação e se manter competitiva.
Fonte: Forbes